domingo, 13 de novembro de 2011

COISA SIMPLES

Não é fácil, querem-nos heróis a viva força. Ufa, não estou para isso... E se querem saber, fico mal em todas as fotografias.
Não tenho nenhum exemplo extraordinário para dar. Ou talvez, nos dias que correm, a minha vulgar humanidade seja um bom exemplo.
Confesso-me inútil.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

DIREITOS E DEVERES


Não vou por ai, as rampas não me convencem. Penso que nem todos os lugares têm de ter necessariamente acessos. É descabido, por exemplo, que a traça antiga de um qualquer castelo seja alterada pela colocação de estruturas e adaptações que, muito ou pouco, acabam sempre por destoar. As pessoas em cadeira de rodas só ficam condicionadas quando perdem a noção dos limites. Esta minha opinião com toda a certeza não é consensual, no entanto cheguei a uma altura em que me preocupo bastante mais com as minhas obrigações do que com os meus direitos. E isto porque o que vejo é um desfilar de reivindicações. Sinceramente, já não há pachorra. Não vou por aí, prefiro encarar os obstáculos como saborosos desafios que a vida me dá. Só assim consigo ir além dos meus limites.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

POEMA PARA ALIVIAR O SOL DA CAB­EÇA

o que escrevo são poemas para limpar os ouvidos
convém, no entanto, fornecer um manual de instruções

que seja suficientemente prático e explícito


para começar, é preciso dizer que

já tive um tempo em que descascava ervilhas

e brincava com os dedos na água de sabão

também sabia andar sentada de marcha atrás

para limpar com uma vassoura o chão


mas isso são caligrafias sem nenhuma importância

e o que interessa salientar é que não sei fazer nada

além de dar murros nas letras

porque tenho vontade de partir as janelas do mundo

para poder respirar mais à vontade


isto também não é exacto pois sou uma das poucas pessoas

que posso respirar à larga sem provocar danos ambientais


há poucas coisas no mundo

que considero de suprema importância

embora não haja um único grão de poeira

que me seja totalmente indiferente


pelo contrário, todas as coisas do mundo me chamam à atenção

sobretudo o globo terrestre que está à janela da minha vizinha

e que é pequenino e feito de madeira com caruncho


para que os meus poemas possam limpar os ouvidos

é necessário seguir algumas regras:


evitar todas as palavras que sejam de enfeitar

(incluindo a palavra palavra),

não ter objectos cortantes nem cantantes,

saber que tudo muda

ao sabor dos picante do ventos


não conheço quase ninguém

mas agradeço a todas as pessoas em geral

e à humanidade em particular

por nunca me terem apanhado em flagrante delírio


a verdade é que sempre fui bem comportada
apenas cometo deslizes gramaticais
e pouco mais


dizem que dantes havia rios com mulheres bordadas,

e que os lençóis e as toalhas brancas

navegavam pela corrente das águas até chegarem ao mar


os meus poemas só existem

porque não posso andar a passear de guarda-chuva

quinta-feira, 24 de março de 2011

POEMA LÚDICO

Gosto de brincar com as minhas caixas vazias
E também com as sombras das minhas mãos
Que fazem desenhos de gatos nas paredes
Gosto de ouvir os alfinetes dentro das caixas vazias
E se as minhas mãos não têm gestos
É porque as luzes se apagam e as paredes ficam frias
Nunca saltei ao arco nem à corda
Só tenho jeito para abrir e fechar gavetas
E também para estragar torneiras e interruptores
As minhas palavras vazias
Estão cheias de alfinetes e de gatos
Há sombras que nunca desaparecem do chão
Que ficam como cicatrizes molhadas
E nunca se evaporam com o Sol nem com a chuva
Dentro dos meus óculos só ouço as cores do arco-íris

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

MENINA DOS CABELOS TRISTES

Preciso parar de morrer.

Tenho de lavar os olhos

E ir para o Sol, para o lugar das palavras arejadas,

Atravessar pontes, encontrar caminhos,

Cruzar-me com os gatos mais assanhados,

Partir vidros, vandalizar todas as estrelas do firmamento,

Riscar paredes, dar pontapés nas latas

Para que me ouçam os deuses da alegria

Fazer trinta por uma linha bem torta,

Ressuscitar as horas mortas,

Bater em muitas portas,

Mudar os ventos e as marés,

Entrar em todos os sentidos contrários

Para trocar as voltar ao mundo,

Para trazer à tona o que está no fundo,

Para sentir outro tempo muito mais fecundo,

Para inventar outro riso e outro juízo,

Outra forma de ser e acontecer…

Preciso!