Os outros falam porque não sentem a boca
Falam como se andassem no ar
E não tivessem outro peso além do estômago
Escrevo porque me faltam sementes de girassóis
Os outros escrevem porque são grandes
E têm respeitáveis pontos de vista
E são ponto de referência em qualquer ponto de partida
Durmo porque tenho sete dias de avanço
Em relação à semana que está por acontecer
Não guardo papéis nos bolsos
Deve ser por isso que não tenho onde me segurar
E só sei virar as mesas com os joelhos
Se pudesse trocava de mãos
E pintava as rosas de cor-de-rosa
Para que nada do que escrevo
Fizesse estrago quando cai no teclado
Se pudesse trocava de paredes
Para não ter tantas formigas na cabeça
Ou trocava de olhos e de espelhos
Para apagar as palavras que não digo
Por andar sempre de boca aberta