domingo, 21 de fevereiro de 2010

EU E A MINHA CARA DE PASMADA

Falo porque não posso falar
Os outros falam porque não sentem a boca

Falam como se andassem no ar

E não tivessem outro peso além do estômago


Escrevo porque me faltam sementes de girassóis

Os outros escrevem porque são grandes

E têm respeitáveis pontos de vista

E são ponto de referência em qualquer ponto de partida


Durmo porque tenho sete dias de avanço

Em relação à semana que está por acontecer


Não guardo papéis nos bolsos

Deve ser por isso que não tenho onde me segurar

E só sei virar as mesas com os joelhos


Se pudesse trocava de mãos

E pintava as rosas de cor-de-rosa

Para que nada do que escrevo

Fizesse estrago quando cai no teclado


Se pudesse trocava de paredes

Para não ter tantas formigas na cabeça

Ou trocava de olhos e de espelhos

Para apagar as palavras que não digo

Por andar sempre de boca aberta