convém, no entanto, fornecer um manual de instruções
que seja suficientemente prático e explícito
para começar, é preciso dizer que
já tive um tempo em que descascava ervilhas
e brincava com os dedos na água de sabão
também sabia andar sentada de marcha atrás
para limpar com uma vassoura o chão
mas isso são caligrafias sem nenhuma importância
e o que interessa salientar é que não sei fazer nada
além de dar murros nas letras
porque tenho vontade de partir as janelas do mundo
para poder respirar mais à vontade
isto também não é exacto pois sou uma das poucas pessoas
que posso respirar à larga sem provocar danos ambientais
há poucas coisas no mundo
que considero de suprema importância
embora não haja um único grão de poeira
que me seja totalmente indiferente
pelo contrário, todas as coisas do mundo me chamam à atenção
sobretudo o globo terrestre que está à janela da minha vizinha
e que é pequenino e feito de madeira com caruncho
para que os meus poemas possam limpar os ouvidos
é necessário seguir algumas regras:
evitar todas as palavras que sejam de enfeitar
(incluindo a palavra palavra),
não ter objectos cortantes nem cantantes,
saber que tudo muda
ao sabor dos picante do ventos
não conheço quase ninguém
mas agradeço a todas as pessoas em geral
e à humanidade em particular
por nunca me terem apanhado em flagrante delírio
a verdade é que sempre fui bem comportada
apenas cometo deslizes gramaticais
e pouco mais
dizem que dantes havia rios com mulheres bordadas,
e que os lençóis e as toalhas brancas
navegavam pela corrente das águas até chegarem ao mar
os meus poemas só existem
porque não posso andar a passear de guarda-chuva
1 comentário:
e para não estragar as tuas palavras, apenas te leio
pois apludir-te faria muito ruído
Enviar um comentário