quinta-feira, 9 de junho de 2011

POEMA PARA ALIVIAR O SOL DA CAB­EÇA

o que escrevo são poemas para limpar os ouvidos
convém, no entanto, fornecer um manual de instruções

que seja suficientemente prático e explícito


para começar, é preciso dizer que

já tive um tempo em que descascava ervilhas

e brincava com os dedos na água de sabão

também sabia andar sentada de marcha atrás

para limpar com uma vassoura o chão


mas isso são caligrafias sem nenhuma importância

e o que interessa salientar é que não sei fazer nada

além de dar murros nas letras

porque tenho vontade de partir as janelas do mundo

para poder respirar mais à vontade


isto também não é exacto pois sou uma das poucas pessoas

que posso respirar à larga sem provocar danos ambientais


há poucas coisas no mundo

que considero de suprema importância

embora não haja um único grão de poeira

que me seja totalmente indiferente


pelo contrário, todas as coisas do mundo me chamam à atenção

sobretudo o globo terrestre que está à janela da minha vizinha

e que é pequenino e feito de madeira com caruncho


para que os meus poemas possam limpar os ouvidos

é necessário seguir algumas regras:


evitar todas as palavras que sejam de enfeitar

(incluindo a palavra palavra),

não ter objectos cortantes nem cantantes,

saber que tudo muda

ao sabor dos picante do ventos


não conheço quase ninguém

mas agradeço a todas as pessoas em geral

e à humanidade em particular

por nunca me terem apanhado em flagrante delírio


a verdade é que sempre fui bem comportada
apenas cometo deslizes gramaticais
e pouco mais


dizem que dantes havia rios com mulheres bordadas,

e que os lençóis e as toalhas brancas

navegavam pela corrente das águas até chegarem ao mar


os meus poemas só existem

porque não posso andar a passear de guarda-chuva

1 comentário:

anarel disse...

e para não estragar as tuas palavras, apenas te leio
pois apludir-te faria muito ruído